Os preços da habitação em Portugal continuaram a subir de forma expressiva no terceiro trimestre de 2025, confirmando que a crise no setor não dá sinais de abrandamento. De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, o Índice de Preços da Habitação registou um aumento homólogo de 17,7%, acelerando face ao trimestre anterior.
Esta evolução coloca os preços das casas em novos máximos históricos, num contexto marcado por forte procura e oferta insuficiente. Apesar de alguma desaceleração pontual em cadeia, a tendência de valorização mantém se sólida ao longo do ano.
Casas usadas lideram subida dos preços
Entre julho e setembro, a subida dos preços foi mais acentuada nas habitações existentes. Segundo o INE, os preços das casas usadas aumentaram 19,1% em termos homólogos, enquanto as habitações novas registaram uma valorização de 14,1%.
Esta diferença reflete a maior escassez de oferta no mercado de casas usadas, sobretudo nos centros urbanos e nas áreas metropolitanas. A procura por este tipo de imóveis continua elevada, impulsionada por famílias que procuram soluções habitacionais mais imediatas.
Em termos trimestrais, o índice avançou 4,1%, abaixo dos 4,7% registados no trimestre anterior. Ainda assim, o crescimento em cadeia confirma a manutenção da pressão sobre os preços.
Mercado mantém dinamismo nas transações
Apesar do aumento significativo dos preços, o mercado imobiliário manteve um nível elevado de atividade. No terceiro trimestre de 2025 foram transacionadas 42.481 habitações, o que representa um aumento de 3,8% face ao mesmo período do ano anterior.
O valor total das transações atingiu cerca de 10,5 mil milhões de euros, mais 16,0% em termos homólogos. Este crescimento resulta não só do maior número de vendas, mas também da valorização dos imóveis vendidos.
Os dados indicam que, mesmo com preços mais elevados, a procura por habitação continua resiliente, sustentada por fatores demográficos, necessidades habitacionais e limitações persistentes da oferta.
Compradores nacionais dominam o mercado
A maioria das habitações vendidas no terceiro trimestre foi adquirida por compradores com domicílio fiscal em Portugal. Segundo o INE, estes compradores representaram 88,3% do total das transações realizadas no período.
O valor das casas compradas por residentes rondou os 9,2 mil milhões de euros, confirmando que o mercado continua a ser dominado pela procura interna. Este peso reflete a importância das famílias portuguesas na dinâmica do setor.
Em contraste, as compras por parte de estrangeiros voltaram a diminuir. No terceiro trimestre, foram adquiridas 2.219 habitações por compradores não residentes, uma queda homóloga de 16,4%.
Oferta limitada continua a pressionar preços
Os dados do INE reforçam a leitura de que a crise da habitação em Portugal tem uma forte componente estrutural. A oferta de casas continua insuficiente face à procura, sobretudo nas zonas de maior concentração populacional e atividade económica.
A construção de nova habitação tem crescido de forma limitada e não acompanha o aumento do número de famílias. A escassez de terrenos disponíveis, os custos de construção e os prazos administrativos continuam a condicionar a resposta do lado da oferta.
Esta combinação de fatores contribui para a manutenção de preços elevados, mesmo num contexto de maior prudência no financiamento e de ajustamentos nas condições económicas.
Impacto no acesso à habitação e ao crédito
A subida dos preços da habitação tem impacto direto no acesso à compra de casa. Com valores mais elevados, o esforço financeiro exigido às famílias aumenta, tanto na entrada inicial como nas prestações mensais.
O acesso ao crédito habitação torna se mais exigente, sobretudo para jovens e agregados com rendimentos médios. As instituições financeiras mantêm critérios prudentes, avaliando a taxa de esforço, a estabilidade laboral e a capacidade de endividamento.
Num cenário de preços elevados e oferta limitada, muitos potenciais compradores acabam por adiar a decisão de compra ou recorrer ao mercado de arrendamento, que também enfrenta fortes pressões.
Crise da habitação mantém se no centro do debate
A evolução dos preços no terceiro trimestre confirma que a crise da habitação continua a ser um dos principais desafios económicos e sociais em Portugal. Apesar de algumas medidas em discussão, os dados mostram que a pressão no mercado persiste.
Sem um reforço significativo da oferta habitacional, os preços deverão manter se elevados, prolongando as dificuldades no acesso à habitação. O cenário atual reforça a necessidade de soluções estruturais que promovam mais construção, reabilitação e melhor aproveitamento do parque habitacional existente.