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Rafaela Guerra
Escrito por Rafaela Guerra

Licenciada em Contabilidade e Administração, sou especialista em gestão financeira e marketing. Procuro ajudar os leitores a acompanhar a atualidade e a melhorar a sua literacia financeira.

Da poupança ao investimento: a estratégia europeia para mobilizar capitais

A Comissão Europeia vai apresentar um conjunto de medidas fiscais destinadas a incentivar os cidadãos a investirem as suas poupanças

A Comissão Europeia vai apresentar, nos próximos dias, um conjunto de medidas fiscais destinadas a incentivar os cidadãos a investirem as suas poupanças, em vez de manterem grandes montantes parados em depósitos de baixo rendimento.

O plano integra-se na iniciativa União da Poupança e dos Investimentos. Entre as propostas estão deduções fiscais para quem abra contas de poupança-investimento, isenções sobre rendimentos obtidos e ainda um regime de diferimento fiscal: o imposto só será pago no momento do levantamento dos fundos.

Atualmente, estima-se que cerca de 10.000.000.000€ estejam “presos” em depósitos que não geram retorno significativo.

Para estruturar a proposta, Bruxelas olha para a experiência sueca. Nesse país, o sistema InvesteringsSparKonto (ISK) já permite comprar e vender títulos de forma simples, sem impostos sobre mais-valias, e transformou o investimento numa prática comum entre as famílias.

A aplicação deste modelo exigirá, contudo, vontade política dos Estados-membros, uma vez que cada país mantém autonomia em matéria fiscal. Além disso, será necessário ultrapassar obstáculos práticos: facilitar a abertura das contas, criar incentivos realmente atrativos, definir limites de depósito suficientemente altos e evitar penalizações excessivas nos levantamentos.

O impacto pode ir além dos aforradores. Se os impostos sobre rendimentos de investimento caírem, é provável que surja pressão para rever também o custo do crédito, garantindo equilíbrio no acesso ao financiamento.

Tal dinâmica poderá afetar tanto os mercados de crédito nacionais como as decisões das famílias entre contrair dívida ou investir.

As alterações poderão refletir-se também no crédito ao consumo e à habitação: se os investimentos passarem a ser mais vantajosos, as famílias poderão rever decisões sobre contrair empréstimos ou canalizar recursos para aplicações financeiras

Em suma, trata-se de um choque fiscal com alcance duplo: estimular o investimento privado e, ao mesmo tempo, reconfigurar o equilíbrio entre poupança, crédito e consumo. Se bem-sucedida, esta iniciativa poderá marcar um ponto de viragem na forma como os europeus gerem o seu dinheiro.